O afeto permite estender a compreensão a níveis
extensos, intensos e profundos, em latitude e longitude. Só o afeto prévio
permite – a posteriori - a crítica verdadeira, a análise adequada. A falta de
afeto bloqueia qualquer forma de compreensão, porque impede a possibilidade de
estender uma ponte ou de acender a luz de uma oportunidade de encontro,
sintonia, empatia, aceitação, etc. entre dois seres.
Há um conhecimento
que só é possível através da compreensão. Não é o único conhecimento possível.
Mas é o que permite ir mais longe e mais fundo na pessoa ou coisa conhecida.
Compreender é, portanto, aceitar o próximo, traduzir, interpretar, é ser capaz
de entendê-lo imediatamente com a luz do afeto, para só depois o definir com a
luz da razão. Para a plena compreensão do outro é fundamental abrir mão, por
momentos, do próprio ego.
“Com-preender” significa “com + prender”, isto
é, estar com o outro incorporado dentro. E prender, tem, também, o sentido de
ligar, atar, acender, trazer consigo, guardar. Para tal, só a cabeça e a razão
pouco podem. Embora ajudem. É preciso umedecê-las com o afeto, base de qualquer
impulso capaz da compreensão verdadeira. É preciso não julgar. Ou só julgar
depôs de aceitar o próximo. Este é um velho princípio que faz parte da revolução
cristã, até hoje pouco ou nada praticada mesmo por religiosos de todos os
matizes. Aceitar o próximo é a capacidade de amá-lo antes de julgá-lo. Como é
difícil!
Num sorriso, no doce olhar e na recusa de emitir qualquer
julgamento está a atitude de vida positiva. Está o impulso de compreensão
nascido da capacidade de aceitar. E ser aceito representa felicidade para
qualquer pessoa.
Artur da Távola
Não se esqueça
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