A vida
sempre se nos apresenta de uma forma rica, diversificada e por vezes
surpreendente. Assim, há aqueles que preferem o inverno e aqueles que não o
suportam, aguardando impacientemente o verão. "Época de andar à vontade" dizem
os últimos, "estação de calor insuportável", afirmam os primeiros. Há também
aqueles que amam a vida na cidade, são urbanitas de coração. Não suportam uma
semana sem shoppings centers, cinemas sofisticados e conforto. Há, porém aqueles
a quem a vida na cidade é um mal necessário, e mal conseguem esperar o próximo
feriadão para partir em direção à praia, campo ou serra. E há aqueles que não
vivem sem um companheiro, uma mulher, um namorado, um amor. Desacompanhados, se
fazem depressivos, carentes, frustrados. Em contrapartida, há aqueles que são
solitários por opção, convictos que relacionamentos amorosos são sofridos,
inoportunos, incomodativos.
Mas será
esta última escolha, como outras, também uma questão de "gosto", ou estilo de
vida?
Não,
afirmaria o benfeitor espiritual, chamado simplesmente de "Guia", que tantas
conferências proferiu pela médium Eva Pierrakos, sempre encerrando nelas grande
sabedoria. A vivência do amor, incluindo o amor romântico (entre um ser
masculino em um feminino), é o estado mais sublime, e, portanto indispensável
para nossa felicidade.
Assim
sendo, quando evitamos o relacionamento amoroso, evitamos a seiva da vida. Disto
conclui-se que tal atitude traz em si mesma algum bloqueio, medo, limitação ou
mesmo uma patologia da alma.
Não
generalizando, (...) vemos o caso de muitas pessoas que se esquivam da relação
amorosa, seja vivendo-a superficialmente, seja afastando-se de todo. Incluímos
aqui aqueles que não se permitem apaixonar e aqueles que se detém apenas na
paixão, sem viver o amor. Tais pessoas mantêm a ilusão de que os problemas são
produzidos pelos outros, porque sentem-se perturbadas apenas quando estão com
eles.
Um dos
motivos para tal distanciamento é a ilusão de auto-perfeição gerada no
isolamento, e que se desvanece nas dificuldades que se mostram no
relacionamento, pois este revela nossas fragilidades e imperfeições que de outra
forma se ocultam. Podemos dizer que o relacionamento ativa estas imperfeições,
de forma que possam ser tornadas conscientes e trabalhadas.
A ilusão de
paz interior e de unidade que provém do fato de evitar o relacionamento tem
levado a conceitos de que o desenvolvimento espiritual é favorecido pelo
isolamento. É um equívoco. Por certo não ignora-se o benefício de períodos de
solitude, onde o silêncio de fora torna possível ouvir a voz interior.
Referimos, pois, àqueles que tomam tal atitude como sistemática, tal como
comentado por Allan Kardec na Lei de Sociedade, inclusa na terceira parte do
Livro dos Espíritos.
No entanto
quanto menos a pessoa desenvolve o contato, mais agudo se torna o anseio por
ele, resultando no sofrimento da solidão e na frustração – eis que se forma
então um conflito. Por um lado, há sofrimento no relacionamento, e por outro há
sofrimento na solidão, mesmo que seja uma dor inconsciente.
Naturalmente
estamos citando aqui aqueles que assim procedem pela dificuldade de contato, que
não vivem um relacionamento porque não conseguem, pois há pessoas amáveis,
embora sozinhas, que saberiam viver uma relação afetuosa, intensa, cuidadosa,
caso encontrassem na Terra uma alma que lhe fosse recíproca. Vemos que há outros
motivos distantes da esfera da neurose para justificar a vida ou um largo
período de vida sem um cônjuge, como necessidades de vivências outras
programadas de antemão pela espiritualidade maior. Por exemplo, há aqueles que
não investem em uma relação conjugal por percebê-la incompatível a um trabalho
assistencial, portanto o fazem por amor e por ideal. Um exemplo máximo é o de
Chico Xavier, que embora não indiferente ao amor, compreendeu que seu caminho
nesta encarnação era solitário. Porém, de uma forma geral, vemos como muito
saudável a predisposição de qualquer ser em encontrar o amor, de forma que se
algum impedimento houver, será determinado por motivos justos pelas forças
divinas.
Há que se
ter cuidado com os motivos que nos levam ao distanciamento do relacionamento
amoroso, pois que usamos alguns que a razão aprova, mas que inconscientemente
apenas encobrem os verdadeiros motivos, que são da esfera da neurose – a isto
chamamos na psicologia de racionalização. Em nosso filme, o motivo real pode ser
o medo inconsciente, revestido de ideais que a razão justifica. Não seria
preciso dizer que a conseqüência desta atitude será a frustração e uma espécie
de vazio interior. Para exemplificar, se for um médium espírita, a pessoa pode
justificar que a evitação de uma relação se deva à sua missão – mas será este o
verdadeiro motivo? Não estará encobrindo outras razões inconscientes? Cabe a
cada um refletir.
(...) Dizia
então o Guia que "as pessoas que têm medo de suas emoções e da vida farão tudo
para evitar subconscientemente a unidade com outro ser", visto que,
acrescentamos, a união amorosa lhes convidam a compartilhar daquilo que tanto
temem: seus sentimentos. Ainda assim, embora este medo exista, poucos há que não
deixem uma brecha para a Paixão se apresentar, como foi o caso do filme. Este
medo pode ter muitas origens, entre estas porque numa vida anterior tiveram uma
experiência amorosa infeliz (quem sabe um desfecho trágico, uma grande
frustração, uma traição), ou talvez porque a alma abusou sofregamente da beleza
da força erótica sem edificá-la na direção do amor, e ao reencarnar decidiu ser
mais cuidadosa, o que se tornou equivocadamente um exagero.
(...)
Existem pessoas que tem medo não da Paixão, ou da Força Eros, mas do Amor.
Assim, para estes, a beleza de Eros os leva a procurá-lo com voracidade. Buscam
um objeto de experiência após o outro, emocionalmente ignorantes demais para
compreender o significado profundo deste movimento que começa pela paixão e se
eterniza no amor. A paixão, visto ser uma pequena amostra do mais pura amor,
deste estado celestial que procuramos, é procurada renovadamente, mas sem a
capacidade pessoal de convertê-la em verdadeiro amor. Elas não têm vontade de
aprender o amor puro.
Assim como
comprometimentos de outras vidas, podem haver processos atuais vários, como por
exemplo o amor edípico, onde uma espécie de compromisso amoroso inconsciente se
organiza com o genitor de sexo oposto, e qualquer outro compromisso mais sério
com o amor traduz-se por um sentimento de traição.
(...) É
possível, pois, "medir a realização pessoal de uma pessoa pelo grau de
profundidade do relacionamento e do contato íntimo, pela força dos sentimentos
que a pessoa se permite experimentar e pela disposição de dar e receber". O
relacionamento com os outros é um espelho do próprio estado pessoal.
Evitar,
temer, limitar, bloquear o amor é gerar sofrimento, é paralisar espiritualmente,
é manter-se em um estado de separatividade com a vida e com o criador, é
ressecar a fonte do líquido precioso da vida. Há que se viver com alma, e para
nutri-la, somente o amor.
Luís
Augusto Sombrio