quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aprenda a livrar-se das dores inevitáveis


Afora as dores relacionadas com os desconfortos físicos, existem outras que dizem respeito à nossa condição de seres racionais. Sofremos a perda de pessoas queridas. Nos entristecemos pelos descaminhos vividos por nossa pátria. Nos identificamos e sofremos as dores dos nossos amigos. Nos preocupamos pelo destino dos nossos filhos. As doenças das pessoas que nos são caras doem em nós. Envelhecemos. Adoecemos. Sabemos que vamos morrer. Tudo isso faz parte da tragédia da nossa condição. São dores inevitáveis e seria absurdo imaginar que as pessoas felizes não passam por elas. Aí estaríamos operando no domínio da fantasia, pensando de uma forma quase ridícula. As pessoas felizes são as que aceitam com docilidade as dores inerentes à vida. Ao aceitá-las com mais serenidade, talvez consigam sofrer menos com elas; e por menos tempo. O objetivo é ser capaz de absorver e se livrar delas o mais rapidamente possível. Os dias da nossa vida são poucos e temos que perder o menor tempo possível com os sofrimentos que nos alcançam e sempre nos alcançarão.

Nestes casos, penso que não existem os prazeres negativos relacionados com o fim da dor. Quando conseguimos parar de sofrer pela morte de um ente querido, experimentamos, no máximo, um certo alívio. Isso porque a dor se atenua de forma progressiva e não é substituída por nenhum tipo de satisfação. Aceitar os sofrimentos típicos da vida humana, consciente de sua condição, faz parte daquilo que chamamos de boa tolerância à frustração e contrariedades. Estas são as grandes contrariedades e, é claro, que quem as aceita terá mais facilidade para lidar com as menores, com os pequenos dissabores que nos chegam o tempo todo e de todos os lados. Docilidade e boa tolerância a contrariedades não é sinal de conformismo e fraqueza. Indica bom senso e ciência de que há regalias pelas quais vale a pena lutar e que há situações onde apenas nos cabe aceitar os fatos.

Flávio Gikovate

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