domingo, 30 de junho de 2013

Todo compreender é afetivo

O afeto permite estender a compreensão a níveis extensos, intensos e profundos, em latitude e longitude. Só o afeto prévio permite – a posteriori - a crítica verdadeira, a análise adequada. A falta de afeto bloqueia qualquer forma de compreensão, porque impede a possibilidade de estender uma ponte ou de acender a luz de uma oportunidade de encontro, sintonia, empatia, aceitação, etc. entre dois seres.

Há um conhecimento que só é possível através da compreensão. Não é o único conhecimento possível. Mas é o que permite ir mais longe e mais fundo na pessoa ou coisa conhecida. Compreender é, portanto, aceitar o próximo, traduzir, interpretar, é ser capaz de entendê-lo imediatamente com a luz do afeto, para só depois o definir com a luz da razão. Para a plena compreensão do outro é fundamental abrir mão, por momentos, do próprio ego.

“Com-preender” significa “com + prender”, isto é, estar com o outro incorporado dentro. E prender, tem, também, o sentido de ligar, atar, acender, trazer consigo, guardar. Para tal, só a cabeça e a razão pouco podem. Embora ajudem. É preciso umedecê-las com o afeto, base de qualquer impulso capaz da compreensão verdadeira. É preciso não julgar. Ou só julgar depôs de aceitar o próximo. Este é um velho princípio que faz parte da revolução cristã, até hoje pouco ou nada praticada mesmo por religiosos de todos os matizes. Aceitar o próximo é a capacidade de amá-lo antes de julgá-lo. Como é difícil!

Num sorriso, no doce olhar e na recusa de emitir qualquer julgamento está a atitude de vida positiva. Está o impulso de compreensão nascido da capacidade de aceitar. E ser aceito representa felicidade para qualquer pessoa.


Artur da Távola

sábado, 29 de junho de 2013

Na natureza


"Na natureza, a soberania pertence às forças silenciosas.
A lua não faz o menor ruído e, não obstante, arrasta milhões de toneladas de água do mar no vaivém obediente ao seu comando; não ouvimos o sol se levantar, nem as estrelas se ocultarem.
Assim, a aurora da nova vida surge silenciosamente no homem, sem que nada a anuncie ao mundo."

Paul Brunton

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Plena mulher

Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

 
Pablo Neruda

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Somos um Nada...

"Somos um Nada...
E, no entanto, esse Nada do homem é grande – porque iluminado pelo Tudo da Divindade...
À luz do seu poder, alvo da sua sabedoria, objeto do seu amor – sou mais que todo o resto do mundo...
De ontem, apenas hóspede na terra – sou eterno no pensamento de Deus...
Partirei amanhã para longe da terra – e serei imortal no seio de Deus...
Como é grande a minha pequenez!
Como é sublime o homem!
Este parêntese – entre dois Infinitos!..."

Huberto Rohden

quarta-feira, 26 de junho de 2013

TODA OFENSA É UMA ILUSÃO

Ao contrário do perdão do ego que reforça que o outro pecou, o verdadeiro perdão lembra à outra pessoa que ela jamais pecou e que jamais pecará. O perdão lembra à outra pessoa de sua eterna perfeição, nela colocada pelo Criador. O verdadeiro perdão significa a compreensão de que o ataque era uma ilusão, não era real; que jamais ocorreu e que a outra pessoa de maneira nenhuma é culpada. O verdadeiro perdão lembra ao outro de sua verdadeira identidade de Filho de Deus imaculado e sem pecado nenhum. Ele também é a habilidade de ver a outra pessoa no sagrado momento presente, não à luz de suas ações passadas.
O perdão é um chamado do despertar para a outra pessoa, que está temporariamente dormindo. Temos de despertá-la gentilmente e não condená-la a um sono mais profundo. Se fôssemos acordar uma criança de um pesadelo, o faríamos com uma voz gentil para que ela não se assustasse. Diríamos a ela que o sonho acabou e que nunca foi real e que a luz chegou. Ensinaríamos a ela a diferença entre dormir e despertar, para que ela pudesse confiar na luz. É desta mesma forma que podemos despertar os outros através do perdão.
Talvez alguém tenha nos tratado de uma maneira hostil ou pior ainda, tenha nos atacado diretamente. A verdade é que esta pessoa nos ataca porque, naquele momento, não se ama e nem se sente digna do amor dos outros. Seu ataque consiste em um pedido de amor. Quando estamos nos amando e sentindo que somos dignos de amor e respeito, não tratamos as pessoas com agressividade. Nem atacamos. Se pudermos aquietar nossa raiva e nosso julgamento, teremos a capacidade de ver um desesperado pedido de amor em um ataque. A resposta apropriada, que é um grande desafio, é oferecer amor.
É isto que nos ensinaram quando nos pediram para amar nossos inimigos. Não precisamos ser lembrados de amar nossos amigos ou aqueles que nos amam. Isso é fácil. Eles estão estendendo amor a nós. Amar nossos inimigos significa oferecer amor àqueles que nos atacam, àqueles que, em vez de estender amor, estão pedindo amor. Todo mundo está estendendo ou pedindo amor. Conquanto pareça muito difícil oferecer perdão, é muito menos difícil do que viver com a raiva e acusação não resolvidas que constantemente nos prejudica a paz interior. Para citar um velho dito: O ressentimento prejudica mais o vaso que o guarda do que o objeto no qual ele é derramado. Queremos vingança e ressentimento ou paz e felicidade. Não podemos ter os dois.
É através do oferecimento de nosso perdão verdadeiro que somos perdoados. Quero dizer com isto que somos lembrados de quem realmente somos. Se compreendermos os ataques como pedidos de amor e cura, compreenderemos também os nossos próprios ataques. Se enxergarmos o outro verdadeiramente, nos veremos verdadeiramente. Se virmos os outros através dos olhos de Deus, também nos veremos da mesma maneira. A salvação do outro também é a nossa. Lembrando da natureza sem pecado e culpa do outro e pedindo para ver isto em todas as pessoas, lembramos a nós mesmos de nossa própria natureza. Liberando-os de nossos julgamentos, estamos liberando a nós mesmos. Não podemos perdoar a nós mesmos enquanto não formos capazes de perdoar os outros.

Extraído do livro "A espiritualidade a Dois", de Robert Roskind - Editora Namaste
Fonte: http://www.eurooscar.com/

terça-feira, 25 de junho de 2013

O amor aguarda você ser feliz


O verdadeiro sentido do amor vai muito além da posse, do apego, do rancor, da culpa e de alguns sentimentos que nos confundem quando não olhamos para nós mesmos. E sinceramente temos a mania de achar que o amor é algo que se busca, algo para ser encontrado em alguma esquina. Buscamos o amor nas festas, nos bares, restaurantes e agora também na internet. Parece ser algo urgente, pois nos ensinaram quem só o amor constrói, só o amor salva, só o amor traz felicidade. Há um grande equívoco nessa procura ansiosa, cada vez mais acelerada, cada vez mais esquisita. Amor não é remédio, não existe para curar um mal estar que você mesmo criou dentro de si e que, portanto, só você mesmo pode curar. Portanto, se você está deprimido, histérico ou ansioso demais, o amor não se aproximará. Caso o faça, vai frustrar todas as suas expectativas, por que o amor quer ser recebido com saúde e leveza. O amor não suporta a ideia de ser ingerido de quatro em quatro horas como um antibiótico para combater as bactérias da solidão e da baixa alto-estima. O amor não é tolo, quer ser bem tratado, escolhe as pessoas que, antes de tudo tratam bem de si mesmas. Ao contrario do que se pensa, ele não tem que vir antes de tudo: antes de estabilizar a carreira profissional, antes de viajar pelo mundo, de curtir a vida. Ele não é uma garantia de que, a partir de seu surgimento, tudo mais dará certo. O amor, ao contrário do que pensa os afoitos candidatos a amantes, não tem pressa... ele espera primeiro você ser feliz para só então surgir diante de você. Esta é sua condição inegociável, é pegar ou largar. Ser feliz é uma necessidade natural da alma e não uma meta traçada e planejada a ser alcançada. Não envolve estratégias, só sensações. A vida sempre acontece quando a gente não está preocupado em explicá-la. Quando perdemos tempo conceituando a vida, estamos deixando-a escapar. O amor é, portanto, a fragilidade, não a força. É serenidade, água, mansidão... não tem nada a ver com agito, fogo, procura, apartamentos, piscinas, férias no exterior, passagens, carros e, muito menos, com princesas e príncipes encantados. Amar exige coragem, muita coragem, por que é entrega e está todo mundo viciado em trocas e mais trocas - tudo que o amor abomina. Estamos sempre fazendo algo esperando pela recompensa imediata. Se o desejo não é atendido, a frustração logo aparece, a sensação de abandono se instala, a tristeza vem e com ela perde-se toda e qualquer possibilidade de felicidade. Muitos são os cobradores, pouquíssimos são os doadores. Daí vem o desequilíbrio, daí vem o desamor que hoje é o maior defeito do homem. Somos mendigos de uma coisa que temos em abundância dentro de nós. Ainda não aprendemos que o amor que reivindicamos é o mesmo que precisamos dar, por que tudo começa em nós. Estamos sempre esperando que o outro tome a iniciativa. O mesmo acontece com ele. E assim o amor agoniza... sobrevive da eterna ilusão da busca, da procura, dos encontros mágicos que as novelas ajudam a instalar nas mentes mais desavisadas, quando tudo o que o amor anseia é pela distração, pelo silêncio... pela dança sem a necessidade da música. Acredito estar só no início de um longo caminho a ser trilhado, longe de mim achar que realmente o amor é isso tudo que escrevi, pois esse sentimento só sabe quem sente...mais foi assim que o budismo me ajudou a cada noite mal dormida, a cada decepção, a cada frustração...me levantar e acreditar que amor chega na hora certa... Através da recitação do nam myoho rengue kyo estou conseguindo transformar minha vida, inúmeros são os benefícios materiais mais não cabe nesse momento falar, já que o benefício maior para mim hoje é poder amar todos a meu redor independente de qualquer coisa. E como diz o nosso mestre Ikeda: "Amar não é quando duas pessoas olham uma para a outra, mas quando olham na mesma direção. O amor libera não encarcera."

M. Vinícius Sassone

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A EVITAÇÃO DO AMOR

A vida sempre se nos apresenta de uma forma rica, diversificada e por vezes surpreendente. Assim, há aqueles que preferem o inverno e aqueles que não o suportam, aguardando impacientemente o verão. "Época de andar à vontade" dizem os últimos, "estação de calor insuportável", afirmam os primeiros. Há também aqueles que amam a vida na cidade, são urbanitas de coração. Não suportam uma semana sem shoppings centers, cinemas sofisticados e conforto. Há, porém aqueles a quem a vida na cidade é um mal necessário, e mal conseguem esperar o próximo feriadão para partir em direção à praia, campo ou serra. E há aqueles que não vivem sem um companheiro, uma mulher, um namorado, um amor. Desacompanhados, se fazem depressivos, carentes, frustrados. Em contrapartida, há aqueles que são solitários por opção, convictos que relacionamentos amorosos são sofridos, inoportunos, incomodativos.

Mas será esta última escolha, como outras, também uma questão de "gosto", ou estilo de vida?

Não, afirmaria o benfeitor espiritual, chamado simplesmente de "Guia", que tantas conferências proferiu pela médium Eva Pierrakos, sempre encerrando nelas grande sabedoria. A vivência do amor, incluindo o amor romântico (entre um ser masculino em um feminino), é o estado mais sublime, e, portanto indispensável para nossa felicidade.

Assim sendo, quando evitamos o relacionamento amoroso, evitamos a seiva da vida. Disto conclui-se que tal atitude traz em si mesma algum bloqueio, medo, limitação ou mesmo uma patologia da alma.

Não generalizando, (...) vemos o caso de muitas pessoas que se esquivam da relação amorosa, seja vivendo-a superficialmente, seja afastando-se de todo. Incluímos aqui aqueles que não se permitem apaixonar e aqueles que se detém apenas na paixão, sem viver o amor. Tais pessoas mantêm a ilusão de que os problemas são produzidos pelos outros, porque sentem-se perturbadas apenas quando estão com eles.

Um dos motivos para tal distanciamento é a ilusão de auto-perfeição gerada no isolamento, e que se desvanece nas dificuldades que se mostram no relacionamento, pois este revela nossas fragilidades e imperfeições que de outra forma se ocultam. Podemos dizer que o relacionamento ativa estas imperfeições, de forma que possam ser tornadas conscientes e trabalhadas.

A ilusão de paz interior e de unidade que provém do fato de evitar o relacionamento tem levado a conceitos de que o desenvolvimento espiritual é favorecido pelo isolamento. É um equívoco. Por certo não ignora-se o benefício de períodos de solitude, onde o silêncio de fora torna possível ouvir a voz interior. Referimos, pois, àqueles que tomam tal atitude como sistemática, tal como comentado por Allan Kardec na Lei de Sociedade, inclusa na terceira parte do Livro dos Espíritos.

No entanto quanto menos a pessoa desenvolve o contato, mais agudo se torna o anseio por ele, resultando no sofrimento da solidão e na frustração – eis que se forma então um conflito. Por um lado, há sofrimento no relacionamento, e por outro há sofrimento na solidão, mesmo que seja uma dor inconsciente.

Naturalmente estamos citando aqui aqueles que assim procedem pela dificuldade de contato, que não vivem um relacionamento porque não conseguem, pois há pessoas amáveis, embora sozinhas, que saberiam viver uma relação afetuosa, intensa, cuidadosa, caso encontrassem na Terra uma alma que lhe fosse recíproca. Vemos que há outros motivos distantes da esfera da neurose para justificar a vida ou um largo período de vida sem um cônjuge, como necessidades de vivências outras programadas de antemão pela espiritualidade maior. Por exemplo, há aqueles que não investem em uma relação conjugal por percebê-la incompatível a um trabalho assistencial, portanto o fazem por amor e por ideal. Um exemplo máximo é o de Chico Xavier, que embora não indiferente ao amor, compreendeu que seu caminho nesta encarnação era solitário. Porém, de uma forma geral, vemos como muito saudável a predisposição de qualquer ser em encontrar o amor, de forma que se algum impedimento houver, será determinado por motivos justos pelas forças divinas.

Há que se ter cuidado com os motivos que nos levam ao distanciamento do relacionamento amoroso, pois que usamos alguns que a razão aprova, mas que inconscientemente apenas encobrem os verdadeiros motivos, que são da esfera da neurose – a isto chamamos na psicologia de racionalização. Em nosso filme, o motivo real pode ser o medo inconsciente, revestido de ideais que a razão justifica. Não seria preciso dizer que a conseqüência desta atitude será a frustração e uma espécie de vazio interior. Para exemplificar, se for um médium espírita, a pessoa pode justificar que a evitação de uma relação se deva à sua missão – mas será este o verdadeiro motivo? Não estará encobrindo outras razões inconscientes? Cabe a cada um refletir.

(...) Dizia então o Guia que "as pessoas que têm medo de suas emoções e da vida farão tudo para evitar subconscientemente a unidade com outro ser", visto que, acrescentamos, a união amorosa lhes convidam a compartilhar daquilo que tanto temem: seus sentimentos. Ainda assim, embora este medo exista, poucos há que não deixem uma brecha para a Paixão se apresentar, como foi o caso do filme. Este medo pode ter muitas origens, entre estas porque numa vida anterior tiveram uma experiência amorosa infeliz (quem sabe um desfecho trágico, uma grande frustração, uma traição), ou talvez porque a alma abusou sofregamente da beleza da força erótica sem edificá-la na direção do amor, e ao reencarnar decidiu ser mais cuidadosa, o que se tornou equivocadamente um exagero.

(...) Existem pessoas que tem medo não da Paixão, ou da Força Eros, mas do Amor. Assim, para estes, a beleza de Eros os leva a procurá-lo com voracidade. Buscam um objeto de experiência após o outro, emocionalmente ignorantes demais para compreender o significado profundo deste movimento que começa pela paixão e se eterniza no amor. A paixão, visto ser uma pequena amostra do mais pura amor, deste estado celestial que procuramos, é procurada renovadamente, mas sem a capacidade pessoal de convertê-la em verdadeiro amor. Elas não têm vontade de aprender o amor puro.

Assim como comprometimentos de outras vidas, podem haver processos atuais vários, como por exemplo o amor edípico, onde uma espécie de compromisso amoroso inconsciente se organiza com o genitor de sexo oposto, e qualquer outro compromisso mais sério com o amor traduz-se por um sentimento de traição.

(...) É possível, pois, "medir a realização pessoal de uma pessoa pelo grau de profundidade do relacionamento e do contato íntimo, pela força dos sentimentos que a pessoa se permite experimentar e pela disposição de dar e receber". O relacionamento com os outros é um espelho do próprio estado pessoal.

Evitar, temer, limitar, bloquear o amor é gerar sofrimento, é paralisar espiritualmente, é manter-se em um estado de separatividade com a vida e com o criador, é ressecar a fonte do líquido precioso da vida. Há que se viver com alma, e para nutri-la, somente o amor.

Luís Augusto Sombrio

domingo, 23 de junho de 2013

Não estás deprimido, estás distraído.

Não estás deprimido, estás distraído.
Distraído em relação à vida que te preenche, distraído em relação à vida que te rodeia, golfinhos, bosques, mares, montanhas, rios.
Não caias como caiu teu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem cinco mil e seiscentos milhões no mundo. Além de tudo, não é assim tão ruim viver só. Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão conheço-me. O que é fundamental para viver.
Não faças o que fez teu pai, que se sente velho porque tem setenta anos, e esquece que Moisés comandou o Êxodo aos oitenta e Rubinstein interpretava Chopin com uma maestria sem igual aos noventa, para citar apenas dois casos conhecidos.

Não estás deprimido, estás distraído.
Por isso acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma. Além disso, a vida não te tira coisas: te liberta de coisas, alivia-te para que possas voar mais alto, para que alcances a plenitude.
Do útero ao túmulo, vivemos numa escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção.
E não esqueças, que o melhor dele, o amor, continua vivo em teu coração.
Não existe a morte, apenas a mudança.
E do outro lado te esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, o Arcanjo Miguel, Whitman, São Agostinho, Madre Teresa, teu avô e minha mãe, que acreditava que a pobreza está mais próxima do amor, porque o dinheiro nos distrai com coisas demais, e nos machuca, porque nos torna desconfiados.
Faz apenas o que amas e serás feliz. Aquele que faz o que ama, está benditamente condenado ao sucesso, que chegará quando for a hora, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural.
Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor.
Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural da vida. A mesma que me ergueu quando caiu o avião que levava minha mulher e minha filha; a mesma que me manteve vivo quando os médicos me deram três ou quatro meses de vida.
Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo.
E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.
Lembra-te: "Amarás ao próximo como a ti mesmo".
Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.
Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus vizinhos.
Um único homem que não possuiu talento ou valor para viver, mandou matar seis milhões de judeus, seus irmãos.
Existem tantas coisas para experimentar, e a nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo.
Podemos experimentar a neve no inverno e as flores na primavera, o chocolate de Perusa, a baguette francesa, os tacos mexicanos, o vinho chileno, os mares e os rios, o futebol dos brasileiros, As Mil e Uma Noites, a Divina Comédia, Quixote, Pedro Páramo, os boleros de Manzanero e as poesias de Whitman; a música de Mahler, Mozart, Chopin, Beethoven; as pinturas de Caravaggio, Rembrandt, Velázquez, Picasso e Tamayo, entre tantas maravilhas.
E se estás com câncer ou AIDS, podem acontecer duas coisas, e ambas são positivas:
se a doença ganha, te liberta do corpo que é cheio de processos (tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razão, tenho dúvidas)
Se tu vences, serás mais humilde, mais agradecido... portanto, facilmente feliz, livre do enorme peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade, disposto a viver cada instante profundamente, como deve ser.

Não estás deprimido, estás desocupado.
Ajuda a criança que precisa de ti, essa criança que será sócia do teu filho. Ajuda os velhos e os jovens te ajudarão quando for tua vez.
Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão.
Dá sem medida, e receberás sem medida.
Ama até que te tornes o ser amado; mais ainda converte-te no próprio Amor.
E não te deixes enganar por alguns homicidas e suicidas.
O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso.
Uma bomba faz mais barulho que uma caricia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida.
 
Facundo Cabral

sábado, 22 de junho de 2013

Minha Culpa


A Artur Ledesma

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Se tu vens

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.
Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade!
Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... "
 
Antoine de Saint-Exupéry 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A TIGELA DE MADEIRA


Um senhor de idade foi morar com seu filho, nora e o netinho de quatro anos de idade.
As mãos do velho eram trêmulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes.
A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão falha do avô o atrapalhavam na hora de comer. Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão. Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha da mesa.
O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.
- "Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai", disse o filho.
- "Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão."
Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições à mesa, com satisfação.
Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira.
Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair ao chão.
O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio.
Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira. Ele perguntou delicadamente à criança:
- "O que você está fazendo?"
O menino respondeu docemente:
- "Oh, estou fazendo uma tigela para você e mamãe comerem, quando eu crescer."
O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho.
Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos.
Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito.
Naquela noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família.
Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as refeições com a família.
E por alguma razão, o marido e a esposa não se importavam mais quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.
De uma forma positiva, aprendi que não importa o que aconteça, ou quão ruim pareça o dia de hoje, a vida continua, e amanhã será melhor.
Aprendi que se pode conhecer bem uma pessoa, pela forma como ela lida com três coisas: um dia chuvoso, uma bagagem perdida e os fios das luzes de uma árvore de natal que se embaraçaram.
Aprendi que, não importa o tipo de relacionamento que tenha com seus pais, você sentirá falta deles quando partirem.
Aprendi que "saber ganhar" a vida não é a mesma coisa que "saber viver".
Aprendi que a vida às vezes nos dá uma segunda chance.
Aprendi que viver não é só receber, é também dar.
Aprendi que se você procurar a felicidade, vai se iludir. Mas, se focalizar a atenção na família, nos amigos, nas necessidades dos outros, no trabalho e procurar fazer o melhor, a felicidade vai encontrá-lo.
Aprendi que sempre que decido algo com o coração aberto, geralmente acerto.
Aprendi que quando sinto dores, não preciso ser uma dor para outros.
Aprendi que ainda tenho muito que aprender.

As pessoas se esquecerão do que você disse.
Esquecerão o que você fez...
Mas nunca esquecerão como você as tratou.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eu Quero





















Eu quero significa: se quiser mesmo uma coisa eu terei.
Ter o que você quer significa tomar as decisões que precisa, para obter o que quer.
Não as decisões que aqueles ao seu redor acham que deveria tomar.
Tomar a decisão certa é chato, previsível e não leva a nada novo.
A decisão arriscada faz você pensar e reagir de um jeito que nunca havia pensado antes.
E este pensamento levará a outros pensamentos que o ajudarão a conseguir o que quer.
Comece a tomar más decisões e isto o levará a um lugar onde outros apenas sonhariam em estar.
 
Paul Arden

terça-feira, 18 de junho de 2013

Teus Olhos


Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis, minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!

Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas..
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...

Berço vinde do céu à minha porta...
Ó meu leite de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


segunda-feira, 17 de junho de 2013

A ABUNDÂNCIA















Quem nós pensamos que somos está intimamente ligado a como nos consideramos tratados pelos outros. Muitas pessoas se queixam de que não recebem um tratamento bom o bastante. “Não me tratam com respeito, atenção, reconhecimento, consideração. Tratam-me como se eu não tivesse valor”, elas dizem. Quando o tratamento é bondoso, elas suspeitam de motivos ocultos. “Os outros querem me manipular, levar vantagem sobre mim. Ninguém me ama.”

Quem elas pensam que são é isto: “Sou um pequeno eu’ carente cujas necessidades não estão sendo satisfeitas.” Esse erro básico de percepção de quem elas são cria um distúrbio em todos os seus relacionamentos. Esses indivíduos acreditam que não têm nada a dar e que o mundo ou os outros estão ocultando delas aquilo de que precisam. Toda a sua realidade se baseia num sentido ilusório de quem elas são. Isso sabota situações, prejudica todos os relacionamentos. Se o pensamento de falta – seja de dinheiro, reconhecimento ou amor – se tornou parte de quem pensamos que somos, sempre experimentaremos a falta. Em vez de reconhecermos o que já há de bom na nossa vida, tudo o que vemos é carência. Detectarmos o que existe de positivo na nossa vida é a base de toda a abundância. O fato é o seguinte: seja o que for que nós pensemos que o mundo está nos tirando é isso que estamos tirando do mundo. Agimos assim porque no fundo acreditamos que somos pequenos e que não temos nada a dar.

Se esse for o seu caso, experimente fazer o seguinte por duas semanas e veja como sua realidade mudará: dê às pessoas qualquer coisa que você pense que elas estão lhe negando – elogios, apreço, ajuda, atenção, etc. Você não tem isso? Aja exatamente como se tivesse e tudo isso surgirá. Logo depois que você começar a dar, passará a receber. Ninguém pode ganhar o que não dá. O fluxo de entrada determina o fluxo de saída. Seja o que for que você acredite que o mundo não está lhe concedendo você já possui. Contudo, a menos que permita que isso flua para fora de você, nem mesmo saberá que tem. Isso inclui a abundância. A lei segundo a qual o fluxo de saída determina o fluxo de entrada é expressa por Jesus nesta imagem marcante: “Dai, e dar-se-vos-á.

Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada, sacudida e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.” A fonte de toda a abundância não está fora de você. Ela é parte de quem você é. Entretanto, comece por admitir e reconhecê-la exteriormente. Veja a plenitude da vida ao seu redor. O calor do sol sobre sua pele, a exibição de flores magníficas num quiosque de plantas, o sabor de uma fruta suculenta, a sensação no corpo de toda a força da chuva que cai do céu. A plenitude da vida está presente a cada passo. Seu reconhecimento desperta a abundância interior adormecida. Então permita que ela flua para fora. Só fato de você sorrir para um estranho já promove uma mínima saída de energia. Você se torna um doador. Pergunte-se com frequência: “O que posso dar neste caso?

Como posso prestar um serviço a esta pessoa nesta situação? Você não precisa ser dono de nada para perceber que tem abundância. Porém, se sentir com frequência que a possui, é quase certo que as coisas comecem a acontecer na sua vida. Ela só chega para aqueles que já a têm. Parece um tanto injusto, mas é claro que não é. É uma lei universal. Tanto a fartura quanto a escassez são estados interiores que se manifestam como nossa realidade. Jesus fala sobre isso da seguinte maneira: “Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que não tem.

Eckhart Tolle

domingo, 16 de junho de 2013

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.
 
Pablo Neruda

sábado, 15 de junho de 2013

Minha Terra















A. J. Emídio Amaro

Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar
Onde tenho o meu pão e a minha casa...

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu...
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loira, amou e foi amada...

Truz... truz... truz... Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite...
Terra, quero dormir... dá-me pousada!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Feridas curadas


"Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas"...
As pérolas são feridas curadas,
pérolas são produto da dor,
resultado da entrada de uma substância
estranha ou indesejável no interior da ostra,
como um parasita ou um grão de areia.
A parte interna da concha de uma ostra
é uma substância lustrosa chamada nácar.
Quando um grão de areia penetra,
as células do nácar começam a trabalhar
e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas
para proteger o corpo indefeso da ostra.
Como resultado, uma linda pérola é formada.
Uma ostra que não foi ferida de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada:
- Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de um amigo?
- Já foi acusado de ter dito coisas que não disse?
- As suas idéias já foram rejeitadas, ou mal interpretadas?
- Já sofreu os duros golpes do preconceito?
- Já recebeu o troco da indiferença?
Se sim, então, produza uma pérola! Cubra as suas mágoas com várias camadas de amor.
Bem poucas são as pessoas que se interessam por esse movimento.
A maioria exercita apenas o cultivo de ressentimentos, deixando as feridas abertas,
alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos, e portanto não permitindo que cicatrizem.
Assim, na prática, o que vemos são muitas "ostras" vazias, não porque não tenham sido feridas, mas porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor.
As pérolas mais belas são geradas nas profundezas do nosso ser.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Oração a Santo Antônio


"Se milagres desejais,
Recorrei a Santo Antônio;
Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-no aqueles que o viram,
E digam-no os paduanos.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraco torna-se forte
E torna-se o enfermo são"