terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pessoas que sofrem, pessoas que lutam


Nas minhas andanças pelos trabalhos de comportamento com grupos, empresas,
famílias e indivíduos, tenho me deparado com um fenômeno: pessoas profundamente insatisfeitas com o ambiente, com as condições, com as pessoas que as cercam, seja na vida profissional ou familiar. E isso lhes traz acentuado grau de sofrimento psicológico, traduzido em depressões, frustrações e, muitas vezes, com repercussões no sistema biológico, tais como insônias, úlceras, enxaquecas, tensões musculares etc.

Tenho notado, paralelamente a isso, pouco ou quase nenhum esforço dessas pessoas para se resolverem diante de tais ambientes ou pessoas, ou melhor dizendo, para se livrarem do sofrimento a que se encontram submetidas. Prova disso é o tempo prolongado - meses, e às vezes anos - de insatisfação e dor.

Demorei a ter coragem de afirmar: essas pessoas aprenderam a sofrer e, mesmo que neguem sistematicamente, são pessoas que gostam de sofrer. Se examinarmos suas vidas, as veremos estruturadas para o sofrimento. Do ponto de vista da natureza, o que se esperaria de alguém submetido a condições desagradáveis que o agridem nos seus desejos e necessidades?

Uma intensa luta e a busca de mil formas e alternativas para resolver aquelas circunstâncias. No caso a que nos referimos é exatamente o que não se dá.

Toda a energia do indivíduo é voltada para um diagnóstico apurado de todos os aspectos negativos da situação e para a estruturação aprimorada de um sistema de reclamações e queixas sem fim. Isso se agrava na medida em que as queixas começam a congregar as pessoas em torno delas dentro das instituições que se transformam, assim, num extenso muro de lamentações.

As instituições se tornam, dessa forma, o lugar ideal de culto ao negativo, aos limites da realidade, à incompetência, à desgraça e ao mal. O sofrimento, antes de ser um convite à transformação, passa a ser o objeto central das conversas, das reuniões, dos encontros. O sofrimento é falado e contestado verbalmente, às vezes, com veemência, sem nenhuma tomada de decisão conseqüente.

Diz o Dicionário Aurélio que acomodação é a "falta de ambição, de aspiração, desambição e conformismo". As queixas e reclamações, em qualquer ambiente, dão ao indivíduo e aos que o cercam a impressão de não se estar acomodado.
Mas, de verdade, são o primeiro sinal de quem não quer mudar: "O nosso relacionamento não tem solução"; "Não acredito mais"; "Não temos nesta empresa a menor perspectiva"; "Somos muito mal-remunerados"; "Não nos valorizam" etc., etc.

Será que a pessoa acredita piamente no poder mágico das queixas e, que se forem repetidas sistematicamente todos os dias e em todos os lugares, as coisas um dia vão melhorar? A melhoria é e sempre será fruto de muita luta real, muitas idéias criativas, muitos riscos e muito desejo genuíno de mudança. A acomodação nos protege e nos dá a falsa sensação de segurança, mas em troca nos mata emocionalmente. Há muitos anos eu acreditava que as circunstâncias externas eram realmente 100% responsáveis pelo sofrimento das pessoas. Hoje, penso radicalmente o contrário. Nas mesmas circunstâncias em que algumas pessoas optam pela loucura, outras optam pelo crescimento, pela mudança, pela renovação. Não podemos negar os aspectos negativos da realidade. Quando se deseja realmente algo, do fundo do coração, alguma coisa se faz por alcançá-lo e nasce alegria só de tentá-lo. A acomodação é a forma mais sutil de deterioração e suicídio, seja profissional ou pessoal.

O mundo hoje nos impõe profundas mudanças pessoais. Mudanças, sobretudo, na forma de encararmos as nossas relações. Pessoas apáticas, queixosas, amargas, revoltadas no falar, mas acomodadas, estão dando lugar a um novo tipo de ser humano: uma pessoa que, a par dos seus limites e das dificuldades da realidade, querem tentar, pois acreditam verdadeiramente que é preferível morrer vivendo do que viver morrendo.

E a esperança? É a antítese da acomodação. É a crença de que enquanto estivermos entre os vivos, temos a obrigação de crescer e descobrir novos rumos, novos caminhos, novas maneiras de lidar com o mundo e de estar no mundo. Somos sempre responsáveis pelas nossas escolhas e, por isso, devemos escolher sempre e cada vez melhor. E se as escolhas que fazemos não servem e nos fazem sofrer, quem é o responsável? E se as escolhas que fazemos não servem e nos fazem sofrer, quem é o responsável, nós ou as circunstâncias?

Antônio Roberto

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